sexta-feira, 18 de abril de 2008

Saída de Emergência


Parecia a noite mais fria do ano.
A conversa gélida ajudava a piorar tudo.
Ela não olhava para os lados e perguntava-se como tinha se metido nessa situação de novo. Estava ali, em plena noite de sábado, com pessoas que achava que conhecia.
De quem até gostava, mas com quem não convivia.
O que talvez devesse ter permanecido desse jeito por outros tantos meses.
A colher girava furiosamente no fundo da taça de chocolate quente,
como que para distrair os pensamentos e palavras que queriam fugir pela boca.
Pois sim, a situação estava no limite.
Os assuntos eram banais e os comentários e julgamentos de sempre estavam no limiar de surgir. Permanecia quieta, enrolando os fios da manta que caía pelo colo.
Alguns acabaram ficando entre os dedos e terminaram no chão,assim como o seu bom-humor.
Mediu as palavras, engoliu em seco, mas quando menos esperava uma frase dita no meio de mais um papo sobre banalidades do mundo foi o estopim que seus algozes esperavam:
- Ninguém é imparcial!
Pronto! As frases feitas apareceram e foram florescendo de acordo com o script já imaginado. Revoltada, rebelde, melindrosa... todas elas como a velha cantilena ouvida desde pequena.
Só ficou no ar a preferida deles: tu tem o gênio do teu pai.
Sim, ela tem e daí.
Se tu não tem a capacidade de debater qualquer coisa que fuja do assunto cama- cozinha-trabalho.
Vai se ferrar.
Mais um sapo engolido, ela olhou por todos os lados, empurrou a cadeira com força e saiu correndo pela porta de emergência.
E colocou um ponto final naquele roteiro de última categoria.
Mário Quintana

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